“O Jornalismo é talvez a única profissão em que somos testados diariamente, a cada instante. O jornalista tem por obrigação ser inteligente durante pelo menos o seu horário profissional”. Lago Burnett.

Ser Jornalista

O Jornalismo exige recursos humanos que vão além da capacidade técnica, com a língua, ou com os novos instrumentos de trabalho, apesar de depender muito deles. Exige também conhecimento de mundo, noções de democracia e cidadania, além de percepções sobre a dinâmica do poder econômico diante dos meios de comunicação.

As “novidades” que a evolução da sociedade apresenta, não modificam a função essencial do jornalismo, que não está aí apenas para satisfazer com notícias e produtos informativos a fome do novo mundo: “A principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos as informações de que necessitam para serem livres e se autogovernarem” (KOVACH, 2004: 31).

Assim como o jornalismo tem de se reconfigurar de acordo com a evolução da sociedade, sem ceder ou recuar no exercício de sua função social essencial, o profissional também tem de estar apto a exercer a atividade de forma responsável. E sua responsabilidade vai muito além do compromisso que o jornalista tem com seu patrão, com suas convicções ideológicas, e, muitas vezes, vai além dos seus interesses. Isso é fruto de um reconhecimento público de que a sociedade tem direito à informação.
O jornalista Washington Novaes, no livro A quem pertence a informação? (1989), coloca uma pergunta que ele mesmo responde com o objetivo de provar de onde vem a responsabilidade e qual é a dimensão disso. “Por que é que quando um jornalista procura uma pessoa e lhe pede informações a respeito de um fato essa pessoa responde?” (NOVAES, 1989: 43 – 44).

Segundo o raciocínio do autor, isso acontece “porque as pessoas – embora possam até não se dizer isso, não ter consciência disso – reconhecem o direito da sociedade à informação. Na resposta, ainda que imperfeita, parcial ou até mentirosa, está implícito o reconhecimento do direito da sociedade à informação.
Está o reconhecimento de que o direito à informação é um bem social, pertencente à sociedade” (NOVAES, 1989: 44). Talvez Novaes não precisasse fazer tal afirmação baseado em suposições. Bastaria recorrer à Constituição da República Federativa do Brasil.

Na Lei Fundamental brasileira (que em seu preâmbulo destina-se “a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos”), o inciso XIV do Art. 5º, o mesmo que dá ao jornalista um dos seus direitos mais fundamentais - o “sigilo da fonte” -, também apresenta ao profissional seu dever primordial: “é assegurado a todos o acesso à informação” (CF, art. 5º, inc. XIV).
No que tange o desempenho dos jornalistas no cumprimento desse dever, diante da função essencial do jornalismo e das novas dinâmicas política, econômica, cívica, tecnológica e moral que emergem com os novos tempos, Novaes destaca o seguinte: “É extremamente pesado e difícil o papel do profissional da comunicação nos dias de hoje. Porque na verdade é uma luta contra poderes imensos, em benefício do cidadão comum, simples e pequeno como deveria ser o jornalista, de mãos vazias” (NOVAES, 1989: 55). O posicionamento do autor, porém, não representa uma visão pessimista.

Segundo Novaes, “(...) Somos pequenos, mas teremos a alma forte. Porque sabemos que ao nosso lado está o maior dos poderes: o desejo da sociedade.” Para o autor, então, o jornalismo “é uma profissão que se exerce por delegação da sociedade, a quem pertence a informação, o direito à informação.” (NOVAES, 1989: 45)

Estas responsabilidades impõem aos que querem ser jornalistas e aos que querem formar esses profissionais, a busca e o oferecimento constante do conhecimento, o que será tratado no próximo capítulo sob os conceitos de capital humano e capital social. Uma característica a qual se deve o acúmulo de todo knowhow necessário aos jornalistas, no entanto, vai um pouco além do reconhecimento da função social desse comunicador. Abrange também a maneira como esse papel é desempenhado. “Por isso é tão penosa a liberdade de imprensa com responsabilidade”, destaca Novaes em seu livro. Para ele, “se trata de decidir, a cada momento, em cada notícia, se estamos sendo fiéis à realidade (e não às nossas crenças, aos nossos desejos, às nossas simpatias, às nossas convicções, aos nossos temores, aos nossos desamores).” (1989: 63).

O jornalista e professor titular da Universidade Federal de Santa Catarina, Nilson Lage, reforça as palavras de Novaes ao advertir que: “Transmitir informações, interpretá-las sem comprometer-se, preservando, ao mesmo tempo, os valores e crenças individuais, é um exercício de uso da terceira pessoa que envolve treinamento e competência crítica.” (LAGE, 2004: 179)

LAGE, Nilson. A reportagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Ed. Record, 2004.
NOVAES, Washington. A quem pertence a informação?. Rio de Janeiro: Vozes, 1989.