“O Jornalismo é talvez a única profissão em que somos testados diariamente, a cada instante. O jornalista tem por obrigação ser inteligente durante pelo menos o seu horário profissional”. Lago Burnett.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Escrevendo um texto para revista

As revistas fazem o tão sonhado jornalismo interpretativo. Como os textos são maiores, exigem que o pensamento seja organizado de forma tal, que tenha uma lógica e sequência próprias, para beneficiar o leitor diretamente.

Recomenda-se, inclusive, fazer um roteiro de como a matéria será escrita. Lógico que aqui se considera que todo o levantamento de informações tenha sido minucioso e qualitativo. O texto precisa ter um
tom.

Antes de começar a escrever, agrupe as idéias de um mesmo assunto e sentido. Depois estabeleça uma sequência de raciocínio e, principalmente, “os ganchos”. O tom tem tudo a ver com a linguagem que será empregada.

Na revista, permite-se interpretar o fato, resultado de uma reflexão madura sobre o assunto retratado. As matérias precisam estar situadas no tempo e no espaço.

Os neologismos (palavra antiga com significado novo ou simplesmente uma palavra nova), coloquialismos, gírias são abomináveis no jornal impresso, mas podem ser admitidos nas revistas. Os recursos devem ser evitados, mas não rejeitados. As palavras não precisam ser usadas com o sentido atribuído pelos dicionários.

Os “afirmou”, disse, falou, contou devem ser evitados. Que tal, ironizou, alfinetou, indagou etc.? Toda reportagem de revista traz no texto, implícito ou não, uma espécie de ponto de vista sobre o assunto, que não deve ser confundido com qualquer tipo de opinião.

Diferença entre ponto de vista e angulação. Ponto de Vista admite interpretação. Já a angulação é o “rumo”, a escolha de uma ou várias nuances do fato. Qualquer assunto demanda angulação. Ponto de vista é mais ou menos a “moral da história”.

No projeto do texto, é importante que o relato tenha uma ordem. Além disso, carece de uma unidade para que as idéias tenham coerência, sejam estruturadas e organizadas.

O texto precisa ser revisto quantas vezes for necessário. Deve-se sempre desconfiar do texto escrito. Mostre o texto para outras pessoas. O significado que você tenciona pode ser recebido de forma totalmente diversa do imaginado.

O texto deve ser tratado como uma obra de arte. Depois de pronto, faça os últimos retoques, corte os excessos, torne a informação mais enxuta. Você também pode optar por um texto mais comedido para forçar o leitor a usar um pouco mais a cabeça.

domingo, 3 de outubro de 2010

A Produção do Texto na Revista

1. Estilo

O estilo é uma forma pessoal de expressão. Mas não necessariamente individual no sentido de indivíduo.

“O estilo é tudo que individualiza uma obra criada pelo homem, como resultado de um esforço mental, de uma elaboração de espírito, traduzido em imagens, idéias ou formas concretas[...]”.

O estilo pode ser o ângulo em que o jornalista ou o veículo se coloca, levando em conta o leitor ao qual se dirige.

Ter estilo em jornalismo é assumir uma forma peculiar de linguagem.

O estilo está vinculado ao tempo, ao espaço, à interpretação que o autor dá às suas experiências, leituras e a toda sua relação com o que o cerca.

O texto de revista é considerado de maior liberdade, em termos de estilo.

Um mesmo texto pode conter informação, análise, interpretação e ponto de vista.

A linguagem das revistas muitas vezes é definida pelo modo de “angular” a matéria, de redigir o texto e pelo ponto de vista predeterminado.

Nesse sentido, a revista se apropria de técnicas literárias, aproximando-se mais da literatura do que qualquer outro meio jornalístico impresso.
O texto de revista deve passar a informação de um modo sedutor.

Racionalizar e padronizar são formas de tornar criterioso o processo de informação.

As revistas elegem o estilo como caminho para a unidade do texto, elaboração da linguagem e qualificação da notícia.

O texto de uma revista é mais investigativo e interpretativo, menos objetivo e mais criativo. A forma predominante é a narração, que precisa de personagens, ação e ambiente.

A matéria prima da revista é a reportagem.

A reportagem trata de assuntos, e não necessariamente de fatos novos. Seu objetivo é contar uma história verdadeira, expor uma situação ou interpretar fatos. Enquanto a notícia é imediatista, a reportagem preocupa-se em ser atual e mais abrangente.

“A distância entre reportagem e notícia estabelece-se, na prática, a partir da pauta, isto é do projeto do texto”. (Nilson Lage – Estrutura da Notícia)

Para as notícias, as pautas são apenas indicações de fatos programados, da continuação de eventos já ocorridos.

Para as reportagens a pauta deve indicar de que maneira o assunto será abordado.

O que conquista a atenção do leitor para a leitura de uma reportagem são as aberturas.

A revista precisa de uma abertura envolvente. Precisa exercer um poder de atração sobre o leitor.

Exemplos:

UM ESPAÇO PARA ARTE



Artistas fazem de ruas e praças do Rio um palco a céu aberto



Pessoas se aglomeram na rua. Formando um círculo, elas estão atentas, concentradas. É o público que ri, participa e presta atenção a cada detalhe e cada movimento feito pelo artista. Todos os dias as vias públicas do Rio são usadas como local de trabalho e palco para apresentações irreverentes de mágicos, palhaços, músicos, escultores e atores. Artistas de rua têm a capacidade de encantar o público com truques de ilusionismo, malabares, piadas, esculturas, descontração e improviso.


DIREITO À MORADIA



Famílias ocupam prédios abandonados para sobreviver

Apartamento 304. O chão de taco, a cortina de lua e estrelas e pôsteres de Marisa Monte e Chico Buarque compõem a decoração do lugar. A trilha sonora é do antigo aparelho de som, uma música da cantora que aparece pendurada na parede. O cheiro é de café fresquinho, que a dona da casa, preocupada em ser o mais hospitaleira possível, fez para suas visitas: justamente nossa equipe de reportagem.

Nada parece destoar do cotidiano da casa de uma recém-formada em Assistência Social como Andréia Mendes. A única diferença é que o apartamento 304 fica em um antigo edifício do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra, ocupado pelos sem-teto – como a própria Andréia – desde 2004.


RELÍQUIA PRÉ-HISTÓRICA



Patrimônio fossilífero no Maranhão possui peça única no mundo

Grandes canais de água doce alimentam florestas de coníferas e samambaias gigantes, onde vivem dinossauros, crocodilos, pterossauros e uma variedade de peixes. O santuário rico em alimentos contrasta com o ambiente desértico dos arredores, castigado pelas escassas chuvas e por uma seca prolongada. A arraia espadarte, que habita as águas rasas do mar,entra na água doce do estuário em busca de comida. Dessa vez, o lugar onde sempre se alimentou marca o fim da vida do animal de quase 2 metros de comprimento; seus restos foram soterrados e fossilizados. 95 milhões de anos depois, paleontólogos encontram os fósseis da arraia espadarte, uma espécie até então desconhecida dos cientistas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Orientações para produção das matérias da Revista

As matérias deverão trabalhar cinco indicadores:
  1. Dinâmica populacional
  2. Educação
  3. Saúde
  4. Violência
  5. Dinâmica Econômica/Social
A ideia é humanizar cada um desses indicadores, ou seja, mostrar os dados a partir da realidade vivenciada pelos cidadãos de São Luís. Vamos buscar personagens para atigir esse objetivo.

PROPOSTAS DE DIRECIONAMENTO:

Dinâmica Populacional
  • Esvaziamento do centro da cidade x crescimento de centros populacionais no entorno.
  • A população ludovicense está envelhecendo
  • População de miseráveis em crescimento x aumento da concentração de renda
Educação
  • Evasão escolar - causas, consequências, ações para mudança
Saúde
  • Mortalidade Infantil - causas, consequências, ações para mudança (Mães adolescentes/Pré-natal insuficiente)
Violência
  • Menores infratores, trânsito, violência urbana.
Dinãmica econômica/Social
  • Aumento do número de famílias sustentadas por adolescentes

MOVIMENTO NOSSA SÃO LUÍS

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ATENÇÃO TURMA

CONFIRMO A NOSSA VISITA À REDAÇÃO DA REVISTA ÓTIMA NA NOSSA PRÓXIMA AULA (15/09). NOS ENCONTRAREMOS NO LOCAL ÀS 14h30min. ABAIXO INFORMAÇÕES SOBRE COMO CHEGAR. NÃO FALTEM!!!

Rua Nascimento de Moraes, N° 14 - São Francisco

Ponto de Referência:

Vindo pelo Centro, de carro, depois da ponte do São Francisco, há um posto de gasolina à direita. Entra nessa Rua (Paparaúbas) e vira a terceira à esquerda. Depois, a primeira à esquerda. É um prédio de dois andares de esquina de azulejos azuis e amarelos, em frente à Monteplan Engenharia.

Vindo pelo Renascença, de carro, antes de chegar na rotatória do São Francisco, fazer o retorno em frente à TVN e entrar na rua entre o posto de gasolina e a Eletromil. Virar a quinta rua à direita. É um prédio de dois andares de esquina de azulejos azuis e amarelos, em frente à Monteplan Engenharia.

De ônibus, descer na parada da igreja Católica do São Francisco e subir a Rua do Skina Palace Hotel. No final desta rua há um prédio de dois andares de esquina de azulejos azuis e amarelos, em frente à Monteplan Engenharia.



Qualquer dúvida é só ligar: 3227-4265

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pauta - orientações

As pautas devem conter os seguintes itens:


1) Cabeçalho: Onde devem estar contidos o nome do redator, a data em que foi elaborada a pauta, a retranca (duas palavras que indiquem o tema da pauta) e a fonte (de onde foram tiradas as informações para a pauta).

2) Tema: Sobre o que se trata a pauta.

3) Histórico/Sinopse: Você deverá escrever em poucas linhas (média de 15 linhas) em linguagem radiofônica um resumo dos fatos que levaram esse tema a se justificar como assunto de uma pauta jornalística. Esse material é muito importante para situar o repórter e porque poderá ser utilizado por ele para o lide e/ou cabeça da matéria. Para reportagens especiais pode-se inserir mais informação.

4) Enfoque/Encaminhamento: Qual será o direcionamento a ser dado na matéria, ou seja, com base no histórico exatamente o que o pauteiro quer que seja desenvolvido pelo repórter. Indique para o repórter. Este item é que irá definir as suas sugestões de perguntas.

5) Fontes: Para se obter as informações sobre o tema da matéria é fundamental que o pauteiro apresente as fontes para a reportagem, ou seja, as pessoas que serão entrevistadas pelo repórter. Nesse caso, além do nome e do cargo/função da pessoa, deve constar na pauta o endereço e todos os telefones possíveis para contato.

6) Sugestões de perguntas: Como o nome já dia são sugestões a serem seguidas pelo repórter. Mas lembre-se uma pauta não é uma camisa de força. O repórter tem toda liberdade de questionar o entrevistado sobre outras questões que considerar importante naquele momento.

7) Anexos: Caso o pauteiro tenha feito alguma pesquisa ou possua recorte de jornal/revista ou texto retirado da internet poderá anexar na pauta.

A wikipédia ressalta que apesar de ser detalhada e repleta de orientações editoriais, a pauta não é rígida: o repórter pode modificar abordagens, sugerir outros entrevistados e até mudar completamente a natureza da reportagem que irá produzir levando em conta os acontecimentos factuais que presenciar depois de sair da redação em busca da notícia.

Formação da pauta

Dependendo do veículo de informação, a pauta pode ser elaborada de forma diferente, mas, em sua essência, constitui de cinco pontos. Uma pauta geralmente é montada seguindo os seguintes tópicos:

Histórico
O histórico é o que situa o repórter no cenário da reportagem a ser desenvolvida. Antes de abordar o assunto, esta parte da pauta trata do que o assunto é e o que foi. Se a pauta tratar de algum evento em uma determinada guerra, por exemplo, o histórico informa o repórter da guerra em si, de suas causas, como começou e quando, até o presente próximo. Esta informação pode ser ao repórter dada no início para orientá-lo na apuração mas, no texto, em geral vem no fim ou em separado (num "box", se for em mídia impressa, ou "pé" da matéria, se for rádio ou TV).

Matéria
Nesta seção, o encarregado de confeccionar a PAUTA fala exatamente do que o repórter irá tratar.
Abordagem (Angulação)
É o que marca a individualidade da matéria. Dois jornais podem falar sobre o mesmo assunto, só que sob abordagens diferentes. Ainda no exemplo do acontecimento numa guerra, o repórter pode abordar uma explosão como um feito de represália dos povos ocupados. Já outro jornal pode abordar o fato como um acidente.

Fontes
Nesta seção são sugeridas pessoas com quem o repórter poderá falar para enriquecer sua reportagem. Vão desde fontes oficiais, como prefeitos e vereadores, até fontes independentes, como advogados ou executivos, até povo-fala, onde populares são indicados à dar sua opinião sobre o assunto. É conveniente que se coloque telefones, emails e outros meios de contato com as fontes, para que informações possam ser checadas mais tarde, durante a edição da matéria jornalística.

Imagens
Se tratar-se de uma pauta de telejornal, nesta seção o cinegrafista tem orientações do que mostrar e sob qual ângulo. Se tratar-se de uma pauta de jornal impresso, esta seção informa o fotógrafo sobre o que fotografar e como.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Segmentação na Comunicação Impressa

As primeiras publicações brasileiras, durante os períodos do primeiro e segundo impérios, eram mais voltadas para política e negócios e, obviamente, direcionadas para a elite, já que uma minoria da população sabia ler, tinha dinheiro para a compra dos jornais e se interessava por esses assuntos.
Após 1850, a imprensa brasileira passou por transformações “o jornalismo político deu lugar à “imprensa do romantismo”, os pasquins foram substituídos por jornais mais estáveis, de maior duração”. (Lima. 2002:39).
Na área de produtos e serviços jornalísticos, a segmentação, ainda que rudimentar, teve início ainda no século XIX, com a criação de revistas ilustradas, dirigidas a um segmento mais crítico e culto, publicações dirigidas aos estrangeiros que vieram ao Brasil substituir a mão-de-obra escrava, publicadas muitas vezes na língua nativa desses estrangeiros; além de publicações marginais e artesanais de cunho ideológico.
No início do século XX, pode-se notar uma nova forma de segmentação nas publicações, assim como roupas e sapatos direcionados para público feminino, masculino e infantil.
As publicações femininas tratavam basicamente de culinária, moda, alguns aspectos de decoração e cuidados com o lar, além de assuntos como criação de filhos e harmonia doméstica. A revista “A Cigarra”, que ditaria moda na década de 1970 e que trouxe durante toda a década de 1940 folhetins encartados em suas páginas, foi fundada em 1914. A “Revista feminina”, fundada em 1915, foi uma das principais revistas para esse público. O público infantil era prestigiado com a publicação “Tico-tico” (1905).
Já as publicações masculinas abordavam aspectos financeiros, política e outros assuntos mais específicos para negócios. Além dos jornais, eram publicados diversos títulos de revistas, desde sátiras, críticas e de caricaturas, passando por assuntos de interesse geral como “Revista da Semana”, (1900) e “Leitura para todos” (1905).
Mas, assim como os produtos de uso pessoal, como roupas e sapatos, com os produtos jornalísticos/informativos não é suficiente a segmentação por sexo ou idade, já que um mesmo produto não consegue satisfazer aos anseios e necessidades de todos os consumidores. É necessário que se faça uma segmentação mais personalizada e direcionada por preferências, hábitos, gostos e necessidades.
A semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922, em São Paulo, não chegou a merecer destaque da imprensa, no entanto, foi responsável pela criação de revistas como “Revista de Antropofagia” (1928) e “Klaxom” (1922) direcionadas aos intelectuais de esquerda do período. A revista “O Cruzeiro”, uma das mais importantes da nossa história, foi fundada em 1928 e durante as décadas de 40 e 50 seria um dos principais veículos de informação nacional. As ditaduras de Getúlio Vargas (1930-1945) e do governo militar (1964-1985), bem como a introdução das mídias eletrônicas no Brasil - rádio (1922) e TV (1950) - acabaram sendo em parte responsáveis por uma estagnação nesse processo de segmentação das empresas de comunicação brasileiras.
Ao mesmo tempo, diversas publicações americanas passaram a ser editadas no Brasil, trazendo suas influências sociais, culturais, políticas e econômicas ao nosso País. Na década de 1950, receberam versões em português, publicações de grande circulação nos Estados Unidos. Em assuntos gerais, a revista “Seleção” de Readers Digest, no segmento infantil, as revistas de Walt Disney e, duas décadas mais tarde, na área feminina, a revista “Cosmopolitan”, rebatizada aqui com o nome de “Nova”.
Ainda na década de 50, os grandes jornais criaram os suplementos semanais sobre assuntos diversificados, como suplementos femininos, esportivos, literários, entre outros. Esse fenômeno não se restringiu apenas aos jornais. “ As revistas também apresentaram inovações, com diversificação de matérias e algumas especializadas a dar suporte a outros meios de comunicação, como o rádio e o cinema. Foi o caso da Revista do Rádio, Radiolândia e Cinelândia.” (Lima. 2002:39).
Em 1959, a editora Abril, lança a revista “Manequim”, a primeira revista de modas já com moldes prontos; em 1960, lança “4 Rodas”, especializada em turismo e automóveis e “Diversões Escolares”, direcionada a crianças em idade escolar. Em 1961 lança as revistas “Futura Mamãe”, “Noiva Moderna” e “Cláudia”, tentando atender a mulher em suas principais necessidades. Em 1963, lança a revista “Intervalo”, sobre TV e “Transporte Moderno”, sua primeira revista técnica.
A segunda metade da década de 60 seria de grandes inovações para a editora Abril, desde o lançamento das revistas “Realidade” (1966) e “Veja” (1968) e a infantil “Recreio” (1969), até a febre das publicações em fascículos, passando por enciclopédias de assuntos gerais, específica de saúde, de trabalhos manuais, culinária, obras de arte, música, personalidades da história, ciências, entre outros.
Durante toda a década de 70 e 80, as publicações de fascículos continuaram, com temas como cientistas, mitologia, geografia, história, religiões, sexual, plantas, entre outras . Além disso, surgiram diversas outras revistas segmentadas: “Placar” - esportiva - (1970), “Pop” - primeira revista destinada a adolescentes - (1972), “Homem” - revista masculina - (1975), “Casa Cláudia” - decoração - (1977), “Ciência ilustrada” – assuntos científicos - (1981), “Saúde” - sobre qualidade de vida - (1983), “Nova Escola” - direcionada a professores e educadores - (1986), além de diversos títulos de história em quadrinhos, de autores nacionais e internacionais, e outras publicações infantis.
Na segunda metade da década de 80, a editora Abril passa a enfrentar a concorrência da editora Globo, cria a Editora Azul para produzir publicações segmentadas e entre 1987 e 1988 lança pela Abril diversos títulos para nichos bem específicos “Guia Rural”, “Fluir”, “Set”, “Arquitetura e Construção”, “Superinteressante”, “Esportes e Náutica”, “Boa Forma”, “Sala de Aula” e “Elle”.
Para acompanhar essa segmentação das revistas, na década de 80, os jornais entraram em uma fase denominada de “cadernização”, ou seja, a segmentação de assuntos por cadernos ou publicações específicas com temas como informática, turismo, decoração, rural, veículos, entre outros.

O alvo ao alcance dos produtos

A segmentação dessas publicações que vieram ocorrendo ao longo das últimas três décadas, possibilitou não apenas uma expansão para o mercado editorial, mas também uma facilitação para o mercado publicitário que pôde otimizar a utilização de sua verba de mídia e obter um retorno qualitativamente melhor para suas inserções publicitárias.
Por menor que seja o nicho atendido por cada uma dessas publicações ou cadernos, sua representatividade para inserção de anúncios publicitários deve ser analisada pela homogeneização do perfil dos consumidores, o que torna a mídia segmentada um grande atrativo para determinados produtos ou marcas, já que a linguagem utilizada nessa publicidade pode ser bem direcionada, explorando signos pertencentes exclusivamente a esse nicho de mercado.
Os benefícios de se trabalhar com mídia segmentada estão além da otimização dos recursos financeiros, já que criar uma peça publicitária específica para um grupo de pessoas que compõem um target específico possibilita melhor interação com esse público, maior credibilidade e identificação com a mensagem e, conseqüentemente, maior possibilidade de retorno com essa campanha ou peça publicitária.
A revista Raça Brasil, por exemplo, com suas editorias de beleza e moda, tornou-se uma excelente opção mercadológica para os fabricantes de produtos de beleza que já haviam percebido a força desse mercado e vinham investindo nesse segmento com produtos específicos para pele e cabelo dos afro-descendentes.
Marcas conceituadas de produtos que durante muitos anos ignoraram o grande contingente de consumidores negros passaram a investir em produtos específicos para esse público, obtendo retorno financeiro em curto espaço de tempo.
A linha editorial da revista incentiva, de certa forma, o consumo dos mais diversos produtos ao mostrar as novas possibilidades que o mercado oferece a esse segmento e ao incentivar os leitores a aproveitarem tudo que lhes é oferecido. Não é à toa que esse nicho de mercado tem se mostrado tão atraente aos fabricantes de produtos e ao segmento publicitário, dados do Banco Mundial apontam que o mercado de afro-brasileiros e afro-americanos é composto por mais de 100 milhões de pessoas e ultrapassa o potencial de US$ 800 bilhões, só os afro-brasileiros superam a marca de 79 milhões de pessoas e respondem por um consumo de cerca de US$ 300 bilhões.
A revista Update relata que a agência publicitária Grottera, em 1997, realizou uma pesquisa sobre o perfil dos consumidores afro-descendentes que vivem nos centros urbanos brasileiros, os resultados encontrados apontam para uma fatia da classe média pouco explorada no mercado de consumo e cuja demanda por produtos específicos estava latente.
Os dados relatados contabilizavam 7 milhões de pessoas com esse perfil, com renda anual de R$ 46 bilhões e a valor mensal para consumo de R$ 500 milhões. Como exemplo, é fornecido o mercado de cosméticos, onde esse segmento movimenta 25% das vendas de um total de R$ 6 bilhões por ano.
Os anunciantes da revista Raça Brasil, no entanto, não são compostos apenas por empresas com produtos étnicos, mas também de empresas que estão interessadas em aumentar seu faturamento conquistando esse filão com potencial até há pouco ignorado, como bancos, prestadoras de serviços entre outras.

LIMA, Sandra Lúcia Lopes. Comunicação e época. São Paulo: Catálise, 2002.