“O Jornalismo é talvez a única profissão em que somos testados diariamente, a cada instante. O jornalista tem por obrigação ser inteligente durante pelo menos o seu horário profissional”. Lago Burnett.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Escrevendo um texto para revista

As revistas fazem o tão sonhado jornalismo interpretativo. Como os textos são maiores, exigem que o pensamento seja organizado de forma tal, que tenha uma lógica e sequência próprias, para beneficiar o leitor diretamente.

Recomenda-se, inclusive, fazer um roteiro de como a matéria será escrita. Lógico que aqui se considera que todo o levantamento de informações tenha sido minucioso e qualitativo. O texto precisa ter um
tom.

Antes de começar a escrever, agrupe as idéias de um mesmo assunto e sentido. Depois estabeleça uma sequência de raciocínio e, principalmente, “os ganchos”. O tom tem tudo a ver com a linguagem que será empregada.

Na revista, permite-se interpretar o fato, resultado de uma reflexão madura sobre o assunto retratado. As matérias precisam estar situadas no tempo e no espaço.

Os neologismos (palavra antiga com significado novo ou simplesmente uma palavra nova), coloquialismos, gírias são abomináveis no jornal impresso, mas podem ser admitidos nas revistas. Os recursos devem ser evitados, mas não rejeitados. As palavras não precisam ser usadas com o sentido atribuído pelos dicionários.

Os “afirmou”, disse, falou, contou devem ser evitados. Que tal, ironizou, alfinetou, indagou etc.? Toda reportagem de revista traz no texto, implícito ou não, uma espécie de ponto de vista sobre o assunto, que não deve ser confundido com qualquer tipo de opinião.

Diferença entre ponto de vista e angulação. Ponto de Vista admite interpretação. Já a angulação é o “rumo”, a escolha de uma ou várias nuances do fato. Qualquer assunto demanda angulação. Ponto de vista é mais ou menos a “moral da história”.

No projeto do texto, é importante que o relato tenha uma ordem. Além disso, carece de uma unidade para que as idéias tenham coerência, sejam estruturadas e organizadas.

O texto precisa ser revisto quantas vezes for necessário. Deve-se sempre desconfiar do texto escrito. Mostre o texto para outras pessoas. O significado que você tenciona pode ser recebido de forma totalmente diversa do imaginado.

O texto deve ser tratado como uma obra de arte. Depois de pronto, faça os últimos retoques, corte os excessos, torne a informação mais enxuta. Você também pode optar por um texto mais comedido para forçar o leitor a usar um pouco mais a cabeça.

domingo, 3 de outubro de 2010

A Produção do Texto na Revista

1. Estilo

O estilo é uma forma pessoal de expressão. Mas não necessariamente individual no sentido de indivíduo.

“O estilo é tudo que individualiza uma obra criada pelo homem, como resultado de um esforço mental, de uma elaboração de espírito, traduzido em imagens, idéias ou formas concretas[...]”.

O estilo pode ser o ângulo em que o jornalista ou o veículo se coloca, levando em conta o leitor ao qual se dirige.

Ter estilo em jornalismo é assumir uma forma peculiar de linguagem.

O estilo está vinculado ao tempo, ao espaço, à interpretação que o autor dá às suas experiências, leituras e a toda sua relação com o que o cerca.

O texto de revista é considerado de maior liberdade, em termos de estilo.

Um mesmo texto pode conter informação, análise, interpretação e ponto de vista.

A linguagem das revistas muitas vezes é definida pelo modo de “angular” a matéria, de redigir o texto e pelo ponto de vista predeterminado.

Nesse sentido, a revista se apropria de técnicas literárias, aproximando-se mais da literatura do que qualquer outro meio jornalístico impresso.
O texto de revista deve passar a informação de um modo sedutor.

Racionalizar e padronizar são formas de tornar criterioso o processo de informação.

As revistas elegem o estilo como caminho para a unidade do texto, elaboração da linguagem e qualificação da notícia.

O texto de uma revista é mais investigativo e interpretativo, menos objetivo e mais criativo. A forma predominante é a narração, que precisa de personagens, ação e ambiente.

A matéria prima da revista é a reportagem.

A reportagem trata de assuntos, e não necessariamente de fatos novos. Seu objetivo é contar uma história verdadeira, expor uma situação ou interpretar fatos. Enquanto a notícia é imediatista, a reportagem preocupa-se em ser atual e mais abrangente.

“A distância entre reportagem e notícia estabelece-se, na prática, a partir da pauta, isto é do projeto do texto”. (Nilson Lage – Estrutura da Notícia)

Para as notícias, as pautas são apenas indicações de fatos programados, da continuação de eventos já ocorridos.

Para as reportagens a pauta deve indicar de que maneira o assunto será abordado.

O que conquista a atenção do leitor para a leitura de uma reportagem são as aberturas.

A revista precisa de uma abertura envolvente. Precisa exercer um poder de atração sobre o leitor.

Exemplos:

UM ESPAÇO PARA ARTE



Artistas fazem de ruas e praças do Rio um palco a céu aberto



Pessoas se aglomeram na rua. Formando um círculo, elas estão atentas, concentradas. É o público que ri, participa e presta atenção a cada detalhe e cada movimento feito pelo artista. Todos os dias as vias públicas do Rio são usadas como local de trabalho e palco para apresentações irreverentes de mágicos, palhaços, músicos, escultores e atores. Artistas de rua têm a capacidade de encantar o público com truques de ilusionismo, malabares, piadas, esculturas, descontração e improviso.


DIREITO À MORADIA



Famílias ocupam prédios abandonados para sobreviver

Apartamento 304. O chão de taco, a cortina de lua e estrelas e pôsteres de Marisa Monte e Chico Buarque compõem a decoração do lugar. A trilha sonora é do antigo aparelho de som, uma música da cantora que aparece pendurada na parede. O cheiro é de café fresquinho, que a dona da casa, preocupada em ser o mais hospitaleira possível, fez para suas visitas: justamente nossa equipe de reportagem.

Nada parece destoar do cotidiano da casa de uma recém-formada em Assistência Social como Andréia Mendes. A única diferença é que o apartamento 304 fica em um antigo edifício do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o Incra, ocupado pelos sem-teto – como a própria Andréia – desde 2004.


RELÍQUIA PRÉ-HISTÓRICA



Patrimônio fossilífero no Maranhão possui peça única no mundo

Grandes canais de água doce alimentam florestas de coníferas e samambaias gigantes, onde vivem dinossauros, crocodilos, pterossauros e uma variedade de peixes. O santuário rico em alimentos contrasta com o ambiente desértico dos arredores, castigado pelas escassas chuvas e por uma seca prolongada. A arraia espadarte, que habita as águas rasas do mar,entra na água doce do estuário em busca de comida. Dessa vez, o lugar onde sempre se alimentou marca o fim da vida do animal de quase 2 metros de comprimento; seus restos foram soterrados e fossilizados. 95 milhões de anos depois, paleontólogos encontram os fósseis da arraia espadarte, uma espécie até então desconhecida dos cientistas.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Orientações para produção das matérias da Revista

As matérias deverão trabalhar cinco indicadores:
  1. Dinâmica populacional
  2. Educação
  3. Saúde
  4. Violência
  5. Dinâmica Econômica/Social
A ideia é humanizar cada um desses indicadores, ou seja, mostrar os dados a partir da realidade vivenciada pelos cidadãos de São Luís. Vamos buscar personagens para atigir esse objetivo.

PROPOSTAS DE DIRECIONAMENTO:

Dinâmica Populacional
  • Esvaziamento do centro da cidade x crescimento de centros populacionais no entorno.
  • A população ludovicense está envelhecendo
  • População de miseráveis em crescimento x aumento da concentração de renda
Educação
  • Evasão escolar - causas, consequências, ações para mudança
Saúde
  • Mortalidade Infantil - causas, consequências, ações para mudança (Mães adolescentes/Pré-natal insuficiente)
Violência
  • Menores infratores, trânsito, violência urbana.
Dinãmica econômica/Social
  • Aumento do número de famílias sustentadas por adolescentes

MOVIMENTO NOSSA SÃO LUÍS

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

ATENÇÃO TURMA

CONFIRMO A NOSSA VISITA À REDAÇÃO DA REVISTA ÓTIMA NA NOSSA PRÓXIMA AULA (15/09). NOS ENCONTRAREMOS NO LOCAL ÀS 14h30min. ABAIXO INFORMAÇÕES SOBRE COMO CHEGAR. NÃO FALTEM!!!

Rua Nascimento de Moraes, N° 14 - São Francisco

Ponto de Referência:

Vindo pelo Centro, de carro, depois da ponte do São Francisco, há um posto de gasolina à direita. Entra nessa Rua (Paparaúbas) e vira a terceira à esquerda. Depois, a primeira à esquerda. É um prédio de dois andares de esquina de azulejos azuis e amarelos, em frente à Monteplan Engenharia.

Vindo pelo Renascença, de carro, antes de chegar na rotatória do São Francisco, fazer o retorno em frente à TVN e entrar na rua entre o posto de gasolina e a Eletromil. Virar a quinta rua à direita. É um prédio de dois andares de esquina de azulejos azuis e amarelos, em frente à Monteplan Engenharia.

De ônibus, descer na parada da igreja Católica do São Francisco e subir a Rua do Skina Palace Hotel. No final desta rua há um prédio de dois andares de esquina de azulejos azuis e amarelos, em frente à Monteplan Engenharia.



Qualquer dúvida é só ligar: 3227-4265

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Pauta - orientações

As pautas devem conter os seguintes itens:


1) Cabeçalho: Onde devem estar contidos o nome do redator, a data em que foi elaborada a pauta, a retranca (duas palavras que indiquem o tema da pauta) e a fonte (de onde foram tiradas as informações para a pauta).

2) Tema: Sobre o que se trata a pauta.

3) Histórico/Sinopse: Você deverá escrever em poucas linhas (média de 15 linhas) em linguagem radiofônica um resumo dos fatos que levaram esse tema a se justificar como assunto de uma pauta jornalística. Esse material é muito importante para situar o repórter e porque poderá ser utilizado por ele para o lide e/ou cabeça da matéria. Para reportagens especiais pode-se inserir mais informação.

4) Enfoque/Encaminhamento: Qual será o direcionamento a ser dado na matéria, ou seja, com base no histórico exatamente o que o pauteiro quer que seja desenvolvido pelo repórter. Indique para o repórter. Este item é que irá definir as suas sugestões de perguntas.

5) Fontes: Para se obter as informações sobre o tema da matéria é fundamental que o pauteiro apresente as fontes para a reportagem, ou seja, as pessoas que serão entrevistadas pelo repórter. Nesse caso, além do nome e do cargo/função da pessoa, deve constar na pauta o endereço e todos os telefones possíveis para contato.

6) Sugestões de perguntas: Como o nome já dia são sugestões a serem seguidas pelo repórter. Mas lembre-se uma pauta não é uma camisa de força. O repórter tem toda liberdade de questionar o entrevistado sobre outras questões que considerar importante naquele momento.

7) Anexos: Caso o pauteiro tenha feito alguma pesquisa ou possua recorte de jornal/revista ou texto retirado da internet poderá anexar na pauta.

A wikipédia ressalta que apesar de ser detalhada e repleta de orientações editoriais, a pauta não é rígida: o repórter pode modificar abordagens, sugerir outros entrevistados e até mudar completamente a natureza da reportagem que irá produzir levando em conta os acontecimentos factuais que presenciar depois de sair da redação em busca da notícia.

Formação da pauta

Dependendo do veículo de informação, a pauta pode ser elaborada de forma diferente, mas, em sua essência, constitui de cinco pontos. Uma pauta geralmente é montada seguindo os seguintes tópicos:

Histórico
O histórico é o que situa o repórter no cenário da reportagem a ser desenvolvida. Antes de abordar o assunto, esta parte da pauta trata do que o assunto é e o que foi. Se a pauta tratar de algum evento em uma determinada guerra, por exemplo, o histórico informa o repórter da guerra em si, de suas causas, como começou e quando, até o presente próximo. Esta informação pode ser ao repórter dada no início para orientá-lo na apuração mas, no texto, em geral vem no fim ou em separado (num "box", se for em mídia impressa, ou "pé" da matéria, se for rádio ou TV).

Matéria
Nesta seção, o encarregado de confeccionar a PAUTA fala exatamente do que o repórter irá tratar.
Abordagem (Angulação)
É o que marca a individualidade da matéria. Dois jornais podem falar sobre o mesmo assunto, só que sob abordagens diferentes. Ainda no exemplo do acontecimento numa guerra, o repórter pode abordar uma explosão como um feito de represália dos povos ocupados. Já outro jornal pode abordar o fato como um acidente.

Fontes
Nesta seção são sugeridas pessoas com quem o repórter poderá falar para enriquecer sua reportagem. Vão desde fontes oficiais, como prefeitos e vereadores, até fontes independentes, como advogados ou executivos, até povo-fala, onde populares são indicados à dar sua opinião sobre o assunto. É conveniente que se coloque telefones, emails e outros meios de contato com as fontes, para que informações possam ser checadas mais tarde, durante a edição da matéria jornalística.

Imagens
Se tratar-se de uma pauta de telejornal, nesta seção o cinegrafista tem orientações do que mostrar e sob qual ângulo. Se tratar-se de uma pauta de jornal impresso, esta seção informa o fotógrafo sobre o que fotografar e como.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Segmentação na Comunicação Impressa

As primeiras publicações brasileiras, durante os períodos do primeiro e segundo impérios, eram mais voltadas para política e negócios e, obviamente, direcionadas para a elite, já que uma minoria da população sabia ler, tinha dinheiro para a compra dos jornais e se interessava por esses assuntos.
Após 1850, a imprensa brasileira passou por transformações “o jornalismo político deu lugar à “imprensa do romantismo”, os pasquins foram substituídos por jornais mais estáveis, de maior duração”. (Lima. 2002:39).
Na área de produtos e serviços jornalísticos, a segmentação, ainda que rudimentar, teve início ainda no século XIX, com a criação de revistas ilustradas, dirigidas a um segmento mais crítico e culto, publicações dirigidas aos estrangeiros que vieram ao Brasil substituir a mão-de-obra escrava, publicadas muitas vezes na língua nativa desses estrangeiros; além de publicações marginais e artesanais de cunho ideológico.
No início do século XX, pode-se notar uma nova forma de segmentação nas publicações, assim como roupas e sapatos direcionados para público feminino, masculino e infantil.
As publicações femininas tratavam basicamente de culinária, moda, alguns aspectos de decoração e cuidados com o lar, além de assuntos como criação de filhos e harmonia doméstica. A revista “A Cigarra”, que ditaria moda na década de 1970 e que trouxe durante toda a década de 1940 folhetins encartados em suas páginas, foi fundada em 1914. A “Revista feminina”, fundada em 1915, foi uma das principais revistas para esse público. O público infantil era prestigiado com a publicação “Tico-tico” (1905).
Já as publicações masculinas abordavam aspectos financeiros, política e outros assuntos mais específicos para negócios. Além dos jornais, eram publicados diversos títulos de revistas, desde sátiras, críticas e de caricaturas, passando por assuntos de interesse geral como “Revista da Semana”, (1900) e “Leitura para todos” (1905).
Mas, assim como os produtos de uso pessoal, como roupas e sapatos, com os produtos jornalísticos/informativos não é suficiente a segmentação por sexo ou idade, já que um mesmo produto não consegue satisfazer aos anseios e necessidades de todos os consumidores. É necessário que se faça uma segmentação mais personalizada e direcionada por preferências, hábitos, gostos e necessidades.
A semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922, em São Paulo, não chegou a merecer destaque da imprensa, no entanto, foi responsável pela criação de revistas como “Revista de Antropofagia” (1928) e “Klaxom” (1922) direcionadas aos intelectuais de esquerda do período. A revista “O Cruzeiro”, uma das mais importantes da nossa história, foi fundada em 1928 e durante as décadas de 40 e 50 seria um dos principais veículos de informação nacional. As ditaduras de Getúlio Vargas (1930-1945) e do governo militar (1964-1985), bem como a introdução das mídias eletrônicas no Brasil - rádio (1922) e TV (1950) - acabaram sendo em parte responsáveis por uma estagnação nesse processo de segmentação das empresas de comunicação brasileiras.
Ao mesmo tempo, diversas publicações americanas passaram a ser editadas no Brasil, trazendo suas influências sociais, culturais, políticas e econômicas ao nosso País. Na década de 1950, receberam versões em português, publicações de grande circulação nos Estados Unidos. Em assuntos gerais, a revista “Seleção” de Readers Digest, no segmento infantil, as revistas de Walt Disney e, duas décadas mais tarde, na área feminina, a revista “Cosmopolitan”, rebatizada aqui com o nome de “Nova”.
Ainda na década de 50, os grandes jornais criaram os suplementos semanais sobre assuntos diversificados, como suplementos femininos, esportivos, literários, entre outros. Esse fenômeno não se restringiu apenas aos jornais. “ As revistas também apresentaram inovações, com diversificação de matérias e algumas especializadas a dar suporte a outros meios de comunicação, como o rádio e o cinema. Foi o caso da Revista do Rádio, Radiolândia e Cinelândia.” (Lima. 2002:39).
Em 1959, a editora Abril, lança a revista “Manequim”, a primeira revista de modas já com moldes prontos; em 1960, lança “4 Rodas”, especializada em turismo e automóveis e “Diversões Escolares”, direcionada a crianças em idade escolar. Em 1961 lança as revistas “Futura Mamãe”, “Noiva Moderna” e “Cláudia”, tentando atender a mulher em suas principais necessidades. Em 1963, lança a revista “Intervalo”, sobre TV e “Transporte Moderno”, sua primeira revista técnica.
A segunda metade da década de 60 seria de grandes inovações para a editora Abril, desde o lançamento das revistas “Realidade” (1966) e “Veja” (1968) e a infantil “Recreio” (1969), até a febre das publicações em fascículos, passando por enciclopédias de assuntos gerais, específica de saúde, de trabalhos manuais, culinária, obras de arte, música, personalidades da história, ciências, entre outros.
Durante toda a década de 70 e 80, as publicações de fascículos continuaram, com temas como cientistas, mitologia, geografia, história, religiões, sexual, plantas, entre outras . Além disso, surgiram diversas outras revistas segmentadas: “Placar” - esportiva - (1970), “Pop” - primeira revista destinada a adolescentes - (1972), “Homem” - revista masculina - (1975), “Casa Cláudia” - decoração - (1977), “Ciência ilustrada” – assuntos científicos - (1981), “Saúde” - sobre qualidade de vida - (1983), “Nova Escola” - direcionada a professores e educadores - (1986), além de diversos títulos de história em quadrinhos, de autores nacionais e internacionais, e outras publicações infantis.
Na segunda metade da década de 80, a editora Abril passa a enfrentar a concorrência da editora Globo, cria a Editora Azul para produzir publicações segmentadas e entre 1987 e 1988 lança pela Abril diversos títulos para nichos bem específicos “Guia Rural”, “Fluir”, “Set”, “Arquitetura e Construção”, “Superinteressante”, “Esportes e Náutica”, “Boa Forma”, “Sala de Aula” e “Elle”.
Para acompanhar essa segmentação das revistas, na década de 80, os jornais entraram em uma fase denominada de “cadernização”, ou seja, a segmentação de assuntos por cadernos ou publicações específicas com temas como informática, turismo, decoração, rural, veículos, entre outros.

O alvo ao alcance dos produtos

A segmentação dessas publicações que vieram ocorrendo ao longo das últimas três décadas, possibilitou não apenas uma expansão para o mercado editorial, mas também uma facilitação para o mercado publicitário que pôde otimizar a utilização de sua verba de mídia e obter um retorno qualitativamente melhor para suas inserções publicitárias.
Por menor que seja o nicho atendido por cada uma dessas publicações ou cadernos, sua representatividade para inserção de anúncios publicitários deve ser analisada pela homogeneização do perfil dos consumidores, o que torna a mídia segmentada um grande atrativo para determinados produtos ou marcas, já que a linguagem utilizada nessa publicidade pode ser bem direcionada, explorando signos pertencentes exclusivamente a esse nicho de mercado.
Os benefícios de se trabalhar com mídia segmentada estão além da otimização dos recursos financeiros, já que criar uma peça publicitária específica para um grupo de pessoas que compõem um target específico possibilita melhor interação com esse público, maior credibilidade e identificação com a mensagem e, conseqüentemente, maior possibilidade de retorno com essa campanha ou peça publicitária.
A revista Raça Brasil, por exemplo, com suas editorias de beleza e moda, tornou-se uma excelente opção mercadológica para os fabricantes de produtos de beleza que já haviam percebido a força desse mercado e vinham investindo nesse segmento com produtos específicos para pele e cabelo dos afro-descendentes.
Marcas conceituadas de produtos que durante muitos anos ignoraram o grande contingente de consumidores negros passaram a investir em produtos específicos para esse público, obtendo retorno financeiro em curto espaço de tempo.
A linha editorial da revista incentiva, de certa forma, o consumo dos mais diversos produtos ao mostrar as novas possibilidades que o mercado oferece a esse segmento e ao incentivar os leitores a aproveitarem tudo que lhes é oferecido. Não é à toa que esse nicho de mercado tem se mostrado tão atraente aos fabricantes de produtos e ao segmento publicitário, dados do Banco Mundial apontam que o mercado de afro-brasileiros e afro-americanos é composto por mais de 100 milhões de pessoas e ultrapassa o potencial de US$ 800 bilhões, só os afro-brasileiros superam a marca de 79 milhões de pessoas e respondem por um consumo de cerca de US$ 300 bilhões.
A revista Update relata que a agência publicitária Grottera, em 1997, realizou uma pesquisa sobre o perfil dos consumidores afro-descendentes que vivem nos centros urbanos brasileiros, os resultados encontrados apontam para uma fatia da classe média pouco explorada no mercado de consumo e cuja demanda por produtos específicos estava latente.
Os dados relatados contabilizavam 7 milhões de pessoas com esse perfil, com renda anual de R$ 46 bilhões e a valor mensal para consumo de R$ 500 milhões. Como exemplo, é fornecido o mercado de cosméticos, onde esse segmento movimenta 25% das vendas de um total de R$ 6 bilhões por ano.
Os anunciantes da revista Raça Brasil, no entanto, não são compostos apenas por empresas com produtos étnicos, mas também de empresas que estão interessadas em aumentar seu faturamento conquistando esse filão com potencial até há pouco ignorado, como bancos, prestadoras de serviços entre outras.

LIMA, Sandra Lúcia Lopes. Comunicação e época. São Paulo: Catálise, 2002.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Jornalismo de Revista - Histórico

Uma revista é um veículo de comunicação, um produto, um negócio, uma marca, um objeto, um conjunto de serviços, uma mistura de jornalismo e entretenimento. “É uma história de amor com o leitor”. Juan Cano.
Revista é um encontro entre editor e leitor. Aliás, quem define o que é uma revista é o leitor. Ele é o termômetro. Será melhor, a revista (ou veículo de comunicação) que melhor der uma notícia. Nunca quem a transmitir primeiro.

Enquanto os jornais nascem com a marca “explícita” da política, do engajamento definido, as revistas complementam a educação, no aprofundamento dos assuntos, na segmentação, no serviço utilitário que podem oferecer aos leitores. Revista une e funde entretenimento, educação, serviço e interpretação dos acontecimentos.

A segmentação por assunto e tipo de público é a essência da revista, ao contrário dos jornais. A revista conhece o rosto do leitor, fala com ele diretamente, trata-o por “você”. É um veículo de comunicação de massa. Mas não muito. Nasceram monotemáticas. Mudaram com o passar dos anos.

HISTÓRICO MUNDIAL

1663 – Alemanha – Erbauliche Monaths-Unterredungen (Edificantes Discussões Mensais)

1665 - França – Journal des Savants

1668 – Itália – Giornali dei Litterati

1680 – Inglaterra – Mercurius Librarius

1693 – França – Mercúrio das Senhoras – a primeira revista feminina

Até praticamente 1700, as publicações lembravam mais os livros do que as revistas como as “percebemos” hoje. A missão de todas elas era destinar-se a públicos específicos e aprofundar assuntos.

Em 1704, o termo revista passa a ser mais usado.

1731 – Inglaterra – The Gentleman’s Magazine (mais parecida com as revistas que conhecemos hoje). Reunia vários assuntos, apresentando-os de forma leve e agradável. Foi inspirada nos grandes magazines, daí que o termo passou a ser usado.

1741 – Estados Unidos – American Magazine e General Magazine

1749 – Inglaterra – Ladies Magazine

Até o final do século 18, centenas de publicações surgiram. E elas apareceram à medida que o analfabetismo diminuía e os países se desenvolviam econômica e tecnologicamente.

No século 19, a revista ganhou espaço, virou e ditou moda. Ela passou a ocupar espaço entre o livro (objeto sacralizado) e o jornal diário. Tomaram para si um papel importante para complementar a educação, relacionando-se entre a ciência e a cultura.

1840 – EUA – Scientific American

1842 – Inglaterra – Illustrated London News – 16 páginas de texto e 32 de gravuras que reproduziam acontecimentos da época.

1890 – EUA – National Geographic Magazine

1922 – EUA – Dewitt Wallace e a mulher dele, Lilá Acheson Wallace, criaram a Reader’s Digest. Condensava artigos editados em outras revistas e jornais e oferecia uma variedade de assuntos até então não encontrada em outro veículo. Tinha que oferecer leitura agradável, linguagem acessível, tom otimista. Deveria vender o sonho e ideologia dos EUA. Entre 1940 e 1950 vendeu 50 milhões de exemplares. A edição em português saiu em 1942 e vendia 500 mil exemplares.

1923 – EUA – Time – a primeira revista semanal de notícias. Fundada por Briton Hadden e Henry Luce. A proposta é trazer notícias da semana organizadas em seções, narradas de maneira concisa e sistemática. A idéia é não deixar homens ocupados perderem tempo na hora de consumir informação.

1936 – EUA – Henry Luce funda também a Life, agora mais ilustrada. Revista valorizava a reportagem fotográfica. Foi copiada da francesa Match. Depois da Segunda Guerra Mundial passou a se chamar Paris Match e é uma das mais vendidas até hoje. Na Alemanha, até hoje, a Stern é a mais vendida também.

1945 – França – Hélène Gordon-Lazareff cria a Elle, revista feminina semanal. Considerada revolucionária. Hoje é licenciada para 16 países.

1953 – EUA (Chicago) – Hugh Hefner criou a Playboy. A proposta era misturar a sofisticação da Esquire (que tinha bom jornalismo, boa ficção, humor requintado, moda bebida e gastronomia), com as garotas nuas. Hoje tem 18 licenças internacionais.

1962 – EUA – Helen Gurley Brown (secretária) escreveu o livro Sex and the Single Girl, que deu origem à Cosmopolitan. Falava de independência, carreira, relacionamentos e SEXO. É editada em 48 países, 25 idiomas. No Brasil é a Nova.

CRONOLOGIA NO BRASIL

1812 – Salvador (BA) – As Variedades (ou Ensaios de Literatura). Com cara e jeito de livro, trazia discursos sobre costumes e virtudes morais e sociais.

1813 – Rio de Janeiro (RJ) – O Patriota, que contava com a elite cultural da época como colaboradores.

1822 – Rio de Janeiro (RJ) – Anais Fluminenses de Ciências, Artes e Literatura.

1827 – Rio de Janeiro (RJ) – O Propagador das Ciências Médicas – revista segmentada (medicina). Considerada a primeira revista especializada.

1827 – Espelho Diamantino – a primeira revista feminina. Todas as revistas tinham vida curta, por falta de assinantes e recursos. Algumas com baixíssimas tiragens (duas, três no máximo).

1837 – Museu Universal – Trazia ilustrações, textos leves e acessíveis. Adequada para quem estava se alfabetizando. Uma cópia dos magazines europeus. Na mesma linha, surgiram Gabinete da Leitura, Ostensor Brasileiro, Museu Pitoresco, Histórico e Literário, Ilustração Brasileira, O Brasil Ilustrado e Universo Ilustrado.

1849 – A Marmota na Corte – começa a era das revistas de variedades, que abusam das ilustrações, textos curtos e humor. O Rio de Janeiro possuía o maior parque gráfico do país.

1898 – Rio Nu – revista masculina com notas políticas e sociais, piadas e contos picantes, caricatura, desenhos e fotos eróticas.

1900 – Revista da Semana – especializada em reconstituições de crimes em estúdios fotográficos.

1905 – Tico-tico – primeira a publicar histórias em quadrinhos.

1911 – Revista de Automóveis

1915 – Aerofólios – sobre aviões

1922 – Klaxon – criada por um grupo de intelectuais – foi um dos muitos títulos – surgidos na Semana de Arte Moderna. A Maçã

1928 – O Cruzeiro – um dos maiores fenômenos editoriais brasileiros, criada por Assis Chateaubriand. Estabelece uma nova linguagem, publicando grandes reportagens, com atenção especial ao fotojornalismo. Vendeu 700 mil exemplares semanais na década de 1950. É fechada na década de 70.

1950 – Surge a Editora Abril, criada por Victor Civita, um italiano que teve passagem pelos Estados Unidos e se mudou para o Brasil. O primeiro título da editora foi o Pato Donald.

1952 – Manchete – surge colada no sucesso de O Cruzeiro, valoriza ainda mais as fotografias e ilustrações. Dura até 1990.

1966 – Editora Abril – Realidade – fechou em 1976, uma das mais conceituadas revistas brasileiras. Investia muito nas grandes reportagens investigativas.

1968 – Veja – Inspirada na Time, demorou sete anos para lutar contra os prejuízos, a ditadura e censura militar até acertar a fórmula. As assinaturas começam em 1971. Hoje tem tiragem de 1,2 milhão de exemplares semanais. Oitenta por cento é assinatura. Hoje é a quarta revista de informação mais vendida do mundo, atrás das norte-americanas Time, Newsweek e US News & World Report. A Visão surgiu em 1952, e era concorrente da Veja, com foco na semana e também nos negócios. Depois vieram a Isto É e Senhor, Afinal e Época.

Na década de 60 surgem as revistas técnicas, voltadas para o desenvolvimento econômico-industrial. Dirigente Rural, Transporte Moderno, Máquinas e Metais, Química e Derivados. A Exame surge em 1971 e se transforma na revista de negócios mais vendida do Brasil.

A Senhor, criada por Nahum Sirotsky, surgiu em 1959, reuniu o que havia de melhor no jornalismo, design, humor e literatura. Durou quatro anos, até 1963.

O Bondinho, experiência bem sucedida durante os anos de 1970-1972, criada pelo grupo Pão de Açúcar. Foi para as bancas em 1971, focada no público jovem e no comportamento. Falava de liberação sexual, medicina alternativa, música. Tinha diagramação criativa e experimental. Foi retirada das bancas algumas vezes por subversão da ordem.

Na década de 60 surgem os títulos de Ziraldo (Pererê) e Maurício de Souza (Cascão, Mônica e Cebolinha).

Em 1960 é lançada a Quatro Rodas.

Em 1959 surge a Manequim, primeira revista de modas do Brasil. Trazia moldes para as mulheres fazerem
as roupas em casa.

A revista Claudia surgiu em 1961. Setor de eletrodomésticos estava em expansão. Tinha fotonovelas, artigos sobre moda, beleza, receitas, decoração. Surge com ela a produção de fotografias de moda, culinária, beleza e decoração. A partir de 1963, a jornalista Carmem da Silva cria o que podemos chamar de jornalismo feminino. Publicava uma coluna “A Arte de ser Mulher”, onde tocava em temas como solidão, machismo, alienação das mulheres, problemas sexuais e trabalho feminino.

Nova e Mais surgem na década de 70, no embalo do início da emancipação feminina. Hoje representa a maior fatia do mercado de revistas.

1966 – Fairplay – dura pouco por causa da censura. Tinha mulheres nuas.

1969 – Ele e Ela – lançada pela Editora Bloch, trazia reportagens ligadas à relação homem-mulher. Chegou a vender 700 mil exemplares.

1970 – Lançada a Placar.

1975 – Surge a Homem, que passa a ser a Playboy anos depois.

1975 – Brasil Surf.

A partir da década de 80, surgem as revistas Saúde, Boa Forma, Corpo a Corpo, Plástica e Dieta.

1998 – A Editora Globo lança a revista Época.

Hoje no Brasil são vendidos 600 milhões de exemplares por ano. No mundo, 6 bilhões.

O Jornalista de Revista

Deve seguir os mesmos princípios básicos dos outros veículos. Texto claro, objetivo, fluente, idéias bem amarradas, com seqüência lógica. Vale lembra que escreve melhor, quem lê mais (sobre tudo) e tem melhor visão de mundo, do país, das pessoas que o habitam.
Independente do meio, o jornalista deve ter uma razoável cultura geral, uma visão de mundo livre de preconceitos e um olhar crítico sobre a própria função e a sociedade. Deve duvidar de tudo, principalmente de si mesmo.

A credibilidade de um profissional começa pelo reconhecimento dos próprios erros.

A primeira regra: não escreva para si. Olhe o leitor. Uma boa matéria precisa ter todas as informações checadas, ouvir fontes confiáveis, cruzar dados, entender o que está efetivamente se passando. O fato de não ser especialista no assunto deve ajudá-lo a questionar tudo o que for preciso para escrever bem a matéria.

A especialização tem o perigo do jornalista achar que o mundo todo está ocupado com aquele assunto.

Para escrever bem não há segredo, nem facilidades. A receita, se houver uma, é escrever muito, muito, muito, muito. E ler ainda mais, mais, muito mais, muito mais mesmo. O famoso “texto mais elaborado” não é uma questão de estilo. É apenas resultado de uma boa apuração. Com todas as controvérsias, lembre-se: jornalismo não é literatura.

A boa apuração traz os substantivos e “acaba” com os elogios. Quem bajula demais é porque não conhece sobre o que está falando. As características falam por si. Um homem de 1,90 de altura não precisa ser descrito como alto.

A simplicidade deve ser sempre uma meta. Na hora de apurar, não se contente com o mínimo. Tenha todas as informações em mãos. Elas farão a diferença na hora de escrever o texto. O bom jornalista é aquele que pega a pauta e visualiza a matéria editada. Isso se aprende na prática, olhando criticamente o que se tem em mãos.

Uma boa revista é aquela vendida. Para isso precisa ter uma boa capa. Capa serve para vender a revista. Quando o mesmo assunto está em duas capas de revistas concorrentes, qual você compra? Numa revista, tudo pode virar reportagem. De aborto a cosméticos, seguindo sempre os preceitos do bom jornalismo.

A pauta bem acertada é meio caminho para uma capa de sucesso. No jornalismo diário, é muito mais simples. Numa periodicidade mais elástica, é preciso encontrar novos enfoques e maneiras originais de abordagem. Tom e linguagem devem ser o mais semelhantes possível.

O design da revista é comunicação, informação. Deve tornar a revista mais atraente para ser lida. E só. Nada de piração em nome da arte ou o que valha. É parceiro do texto. Nunca a estrela da edição.

Uma boa diagramação vai além de boas fotos. Elas também devem trazer informação, falar por si. Fica claro que a fotografia nasceu para a revista.

Além de contar informações de qualidade, exclusivas e bem apuradas, o texto de revista precisa de um tempero a mais. Antes de escrever, o jornalista precisa perder o medo de perguntar. Não pode, nem deve se sentir inferiorizado por não dominar um assunto. Jornalista não é quem sabe. Mas quem conhece quem sabe.

Outro segredo do bom texto é o encadeamento de idéias. Para isso é preciso estabelecer um plano de escrita (claro que isso é para matérias longas) e depois encontrar as melhores palavras, frases e escrevê-las e reescrevê-las quantas vezes for necessário até ficar bom.

Cores, cheiros, descrições cabem no texto de revista. Apresentar os personagens, humanizá-los, dar o máximo de detalhes. Escrever bem é difícil, dá trabalho, exige tempo e dedicação.

O jornalismo tecnicamente bem feito tende a ser necessariamente ético. O jornalista precisa preservar sua independência. Lembre-se: ninguém lhe dá presentes porque gosta de você.

Perseguir a precisão, a objetividade e a isenção é tarefa diária. É preciso, no mínimo, buscar o equilíbrio para que a apuração envolva todos os lados da questão. Jornalistas devem defender o direito à informação e o interesse público, que não é o interesse DO público, do governo, dos anunciantes.

Diante de uma fonte que não quer se identificar, é preciso primeiro saber o porquê

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Uma lupa sobre o jornalismo de revista

Por Alexander Goulart
Podemos falar em um jornalismo de revista? Quantos jornalismos existem? As virtudes jornalísticas, independentemente do tipo de veículo, são as mesmas: independência, veracidade, objetividade, honestidade, imparcialidade, exatidão, credibilidade. Então por que diferenciar? Porque o jornalismo opera através de um meio, de um veículo. E os veículos são diferentes, atingem o público de formas diferenciadas. Se a recepção muda, também existem peculiaridades na produção e emissão dos conteúdos: isso inclui a pauta, linguagem, apresentação visual, inclui todo o processo de circulação da informação até chegar ao destinatário. Mas os critérios de apuração jornalística são os mesmos. Então, sob esse aspecto, podemos falar de um jornalismo de revista.

No meio acadêmico, a revista é um tanto desprezada. Jornal impresso ainda é a menina dos olhos, centro das virtudes jornalísticas. A revista é tida como categoria menor para o exercício do jornalismo. Contudo, pouco a pouco esse panorama tem mudado, tanto que os novos currículos do curso de jornalismo já incluem "Redação e Produção em Revista". Isso é um sinal do momento em que vivemos. Hoje, as revistas representam a maior variedade editorial que dispomos. São milhares de títulos para todos os públicos, gostos. A revista está inserida no mercado atual; um mercado que busca a segmentação de público e publicitária. Fala para as diversas tribos. Logo, a revista é um bom negócio para as empresas, para o mercado, para o público e, claro, para os jornalistas.

Algumas características do veículo: a variedade – muitos assuntos para fisgar o leitor e passar a sensação de janela do mundo; a especialização – centrada num determinado universo de expectativas, visto que conhece seu leitor; visão de mercado – por conhecer seu público, apresenta um produto de olho nos nichos de mercado; texto – o público é curioso, escolhe a revista, logo, se importa com o texto; imagem – o leitor é seduzido com apelo visual, com o bom fotojornalismo. Texto e imagem, traduzidos em matéria bem escrita e apresentação visual eficiente são as bases da revista.

Profundidade relativa

Costuma-se dizer que a revista é mais profunda que o jornal e menos profunda que o livro, porque conhece seu leitor. Marília Scalzo, autora do livro Jornalismo de Revista (2003) diz que a relação revista x leitor é passional. Por isso, as pessoas têm um tipo de revista para a sala, outra para o banheiro, para o quarto; guardam-na de um determinado jeito, carregam-na, recortam-na, etc. Essa relação envolve confiança, expectativas, acertos, pedido de desculpas, gerando uma identificação entre o leitor e a revista, o que identifica, por exemplo, um grupo. O grupo dos que lêem Playboy, das que lêem Capricho, Caras, Caros Amigos, etc. O leitor dá o significado para a Revista, é ele quem diz o que é a revista ( Scalzo, 2003).

Jornal e Revista, por serem impressos, parecem mais verdadeiros, servem como uma espécie de registro histórico, têm credibilidade forte. Por exemplo, todos podem ver um jogo da Copa do Mundo na tevê, mas, no da seguinte, compram o jornal para " saber mais" , para comprovar algo. Se o Papa morre, a edição seguinte da revista vai trazer o acontecimento na capa, será a testemunha principal do evento e vai vender muito. Por enquanto, ainda estamos ligados à materialidade do papel.

A revista e o jornal ajudam a interpretar o acontecimento ou, no caso da revista, ela parte do fato em si para tratar o " assunto" com maior amplitude. Como diz Garcia Márquez, " a melhor notícia não é a que se dá primeiro, mas a que se dá melhor" .O Jornalismo de Revista sabe disso e tem o tempo como aliado. Uma publicação semanal, quinzenal ou mensal pode fazer uma apuração mais precisa, ouvir várias fontes, utilizar recursos gráficos, fotografias a posteriori. A revista permite um jornalismo mais analítico, interpretativo, investigativo.

Interesse público vs. Interesse do público

Mas, ao mesmo tempo, a variedade de publicações nos mostra que não é apenas o caráter informativo/educativo que existe. Há também o entretenimento, a diversão. Diferentemente do jornal, a revista funde informação, educação, serviço e entretenimento. E aqui reside um grande conflito, porque a revista não parte apenas do interesse público para decidir o que vai ser notícia, mas parte do interesse do público. Esse é um nó jornalístico, porque a chance de se invadir aquilo que é de caráter privado é grande. Temos muitos exemplos de revistas que publicam fofocas, boatos – especialmente sobre política e celebridades. Ou ainda páginas e páginas sobre pseudo-eventos que não são jornalísticos.

A revista é mais conotativa, opinativa, literária, sensacionalista; publica coisas que não seriam noticia em jornal; isso porque a notícia, em revista, passa a ser também o que é de interesse do público, seu foco é no leitor, no seu assinante sobretudo. E nesse sentido o jornalista é pago para escrever sobre aquilo que o leitor deseja. Onde fica, então, a independência? Escrever sobre aquilo que o leitor deseja é a pauta, apenas a pauta. O caráter jornalístico está na busca da verdade, do esclarecimento, ajudando o leitor a compreender a realidade em que vive, a ser consciente.

Hoje, os jornais tentam se parecer com as revistas, especialmente na parte gráfica. Numa revista, o primeiro elemento, é a fotografia, a imagem. O restante da diagramação parte da imagem, depois vem o texto. Um texto leve, agradável, que evita gerúndio, usa títulos criativos, sedutores. Uma característica muito importante é a divisão em seções, o que facilita a leitura, torna-a mais atraente. Seus recursos textuais e gráficos permitem que o leitor saboreie uma complexa reportagem.

As revistas falam para um público de uma determinada época. E nesse sentido, sofrem mais que os jornais, porque podem ser atropeladas pela mudança dos costumes. Através das páginas de uma revista, podemos conhecer a história de uma época, um retrato de uma sociedade. Assim eram, especialmente, as revistas ilustradas como O Cruzeiro, Manchete, Revista do Globo. Elas passaram a sofrer quando a televisão se tornou a janela para o mundo e as revistas de atualidade/informativas conquistaram o público.

PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA

EMENTA:

Jornalismo nas Revistas. Aspectos históricos. O mercado e a segmentação. A produção do texto na revista. Diferenças entre o texto de jornal e revista. A pauta, a captação e a edição. A produção de títulos e legendas. Análise de reportagens. Trabalho final de produção de revista do Curso de Jornalismo.

OBJETIVOS:
Expor as especificidades do jornalismo de revista e desenvolver as habilidades necessárias para a produção de reportagens para esse tipo de veículo. Apresentar um produto jornalístico como resultado final da disciplina.

CONTEÚDO:
Unidade I
1. História do Jornalismo Impresso
1.1 As primeiras revistas publicadas no mundo
1.2 As primeiras revistas publicadas no Brasil

Unidade II
2. O mercado e a segmentação
2.1 O mercado para as revistas
2.2 Custom publishing – uma tendência
2.3 A explosão dos títulos populares
2.4 A segmentação e os caminhos possíveis
2.5 O impacto dos meios eletrônicos

Unidade III
3. A produção do texto na revista
3.1 Diferenças entre o texto de jornal e revista
3.2 A pauta, a captação e a edição
3.3 A produção de títulos e legendas

Unidade IV
4. Produção de revista do Curso de Jornalismo

ESTRATÉGIAS DE ENSINO / METODOLOGIA:
Aulas expositivas com uso de quadro branco e recursos audiovisuais. Leitura, análise e discussão de textos especializados. No trabalho final, produção de uma revista para que o aluno tenha uma aproximação prática com esse tipo de publicação.

RECURSOS DE ENSINO:
- Quadro branco
- Retroprojetor
- Pincel
- Transparências
- Datashow

AVALIAÇÃO:
Para avaliação utilizaremos provas escritas e atividades em grupo. A participação e assiduidade também serão pontos levados em consideração.

BIBLIOGRAFIA:
BÁSICA
COIMBRA, Oswaldo. O tetxo da reportagem impressa: um curso sobre sua estrutura. São Paulo: Ática, 2004.
SCALZO, Marília. Jornalismo de Revista. São Paulo: Contexto, 2003.
BOAS, Sérgio Vilas. O estilo magazine. São Paulo: Summus, 1996.

COMPLEMENTAR
LAGE, Nilson. A repostagem: teoria e técnica de entrevista e pesquisa jornalística. Rio de Janeiro: Record, 2001.